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Desafios da Zootecnia em um Zoológico

A ideia desse primeiro texto sobre animais silvestres para o iZoo é justamente falar sobre as dificuldades pessoais encontradas no caminho para se trabalhar com animais silvestres, sendo assim, vai um pouco da minha história.

Há uns bons anos atrás a função do zootecnista era vista como apenas um profissional que trabalhava apenas com animais de produção: carne, leite, ovos, etc. Visto por este panorama, quando surgia a ideia de se trabalhar com animais silvestres, ganhava-se de imediato o título de maluco, uma vez que a profissão não contemplava essa área, apesar de ter uma disciplina voltada para a área de animais silvestres, obrigatória na época. O caminho foi longo, quatro anos após a formatura, entre trabalhos com nutrição de bovinos de leite, produção de forragem, cunicultura, etc. surgiu então, a oportunidade e uma experiência no instituto Butantan em SP, todos pensam: foi trabalhar com cobra! Puro engano, o trabalho foi com manejo de cavalos soro produtores, mas isso não impediu de um curioso se “embrenhar” pelos laboratórios, conhecer pessoas, e se voluntariar em atividades com répteis, o que foi sempre uma grande paixão pessoal. Não falei antes, mas o ingresso na zootecnia sempre foi voltado para a abertura de um criadouro para venda de répteis como animais pet, o que na época não era possível devido a legislação, mas isso fica para um outro momento.



O contato com os profissionais, a recepção e toda a área de pesquisa no Instituto reacendeu a vontade de trabalhar com animais silvestres e, assim, quase cinco anos depois de formado, surgiu a oportunidade de fazer parte da equipe de um Zoológico como responsável do Setor de Nutrição, a princípio como um teste (se não mostrar competência está fora!). E foi assim que começou a jornada, primeiro iniciei buscando referências com profissionais que já trabalhavam na área. Uma das maiores dificuldades encontradas foram colegas de trabalho céticos, quanto a um zootecnista trabalhando com silvestres e a pouca quantidade de referências bibliográficas na área.

O desafio foi enorme, principalmente por se tratar de uma instituição pública com poucos recursos, poucas rações especificas e a questão de não só manter animais saudáveis e nutridos, mas de, que essa alimentação proporcionasse bem-estar e promovesse educação (de modo ao público aprender sobre hábitos alimentares de cada animal). Sem contar recintos (sim recintos, não se utiliza o termo jaula como muita gente ainda costuma chamar) mistos, onde habitam várias espécies de tamanho, peso e idades diferentes, dificuldades em fazer manejos por conta do risco de aumentar o stress dos animais e por consequência perde-los.



E sobre lidar com espécies em risco de extinção? É uma responsabilidade assustadora. Então vem a grande pergunta, como lidar com tudo isso? Respondo: Utilizei da minha formação como zootecnista, dos conhecimento das culturas de produção associado ao conhecimento da biologia de cada espécie, estudei o comportamento dos indivíduos e, principalmente, ouvi tudo daqueles que passam o dia lidando com os animais, os tratadores. Grande parte da ajuda que tive foram dos tratadores, os quais sempre me passavam o retorno das alimentações oferecidas. Sim! é importante saber o que sai da “cozinha”, mas também é importante conhecer o que volta. Caso não haja uma boa relação entre os profissionais, muitas vezes os dados podem ser mascarados.




O grande prazer de trabalhar com animais silvestres é ver o empenho diário daqueles que trabalham e se dedicam àqueles animais, pois muitas vezes são situações de stress, poucas condições de trabalho e baixo reconhecimento, mas cada profissional sempre entrega o seu melhor e a recompensa vem quando você consegue recuperar, reproduzir e ver crescer animais que o risco de extinção é eminente.



Dicas para futuros profissionais que desejam se aventurar em zoológicos:
  1. Conhecimento nunca é demais. Conhecimento sobre áreas de produção e culturas comerciais são essenciais para o desenvolvimento e aplicação na área de zoológicos.

  2. Conhecimento de fisiologia, biologia vai ajudar muito na jornada.

  3. Equipes interdisciplinares conseguem trabalhar com muito mais eficiência do que profissionais de uma mesma área.

  4. Saber trabalhar com pessoas é essencial, engana-se quem pensa que vai trabalhar apenas com animais.

  5. Pensar sempre a longo prazo, o conhecimento adquirido hoje pode ser utilizado daqui a dez anos.

  6. Se você não é parte do problema, seja parte da solução. Nunca aponte os erros se você não sabe como resolve-los.





Vagner Rodrigo Pessoa



Consultor iZoo: Animais SIlvestres

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