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Comportamento como ferramenta para avaliação do bem-estar animal

Quando se fala em bem-estar animal (BEA), uma das principais questões levantadas é como medir o BEA de maneira objetiva e eficiente. Existem diversos caminhos que podem ser seguidos, apoiando-se em indicadores de diferentes tipos e que podem ser utilizados de forma combinada. Dentre os principais indicadores que podem ser utilizados como ferramenta para a avaliação de bem-estar em animais estão os fisiológicos, os clínicos e os comportamentais. E nesse texto vamos focar neste último.



A denominação dos indicadores comportamentais já é bastante autoexplicativa: utiliza-se o estudo do comportamento dos animais como ferramenta auxiliar para a determinação do nível de BEA de um indivíduo ou grupo de indivíduos. O seu uso é de extrema utilidade, principalmente pela baixa invasividade e custos para avaliar estes indicadores.


Alguns indicadores comportamentais que podem ser utilizados para avaliação do BEA são:

Comportamentos Anormais: Estes comportamentos podem ser uma das maneiras mais óbvias de detecção de problemas de BEA (desde que haja um bom conhecimento prévio do comportamento normal da espécie estudada), pois foca nos comportamentos que destoam do repertório normal daquela determinada espécie em uma situação específica. As estereotipias e a automutilação são exemplos muito claros de comportamentos anormais. Estereotipias são comportamentos definidos como repetitivos e sem alguma função aparente, geralmente causados pela falta de estimulação sensorial ou falta de controle sobre o ambiente pelo indivíduo. Já a automutilação consiste no comportamento do indivíduo de infligir lesões ou causar danos ao seu próprio corpo, sendo também causados por problemas de interação com o ambiente ou no convívio social do indivíduo.


Comportamentos Normais: Consistem em comportamentos considerados naturais do repertório de uma determinada espécie. Ex.: Alimentação, ócio, atividade e outros. Neste caso, observa-se se tais comportamentos estão sendo realizados satisfatoriamente, atendendo às necessidades dos animais. A depreciação destes comportamentos pode indicar sérios problemas de BEA, por isso é muito importante observar atentamente a regularidade destes.


Comportamento Social: Abrange as questões ligadas a interação dos indivíduos com outros indivíduos. Observa-se principalmente o quão saudável são as interações e se há estresse prolongado ou evitável resultante de conflitos sociais. Existem comportamentos que promovem mais claramente uma facilitação de vínculos, como lambidas, grooming e outros, sendo chamados de comportamentos afiliativos. Por outro lado, também existem os comportamentos agonísticos, que se caracterizam por disputas, conflitos ou ameaças, que denotam uma intenção de afastamento de um outro indivíduo. Ambos os tipos de comportamento social podem ser positivos para a harmonia na convivência dos animais, dependendo do padrão observado e das características inerentes a cada espécie.


Interação Humano-animal: Este tipo de indicador comportamental apoia-se na observação do comportamento dos animais e dos humanos durante interação entre estes. Frequentemente nossos animais domésticos de produção são submetidos à uma infinidade de manejos e inevitavelmente precisam interagir com humanos. A qualidade desta interação, pode ser determinante no nível de BEA e nos índices produtivos, além disso, o bem-estar dos manejadores pode ser influenciado e influenciar a qualidade desta interação. Algumas medidas para avaliar a interação-humano animal com foco no animal: reatividade, velocidade de saída e distância de fuga. Há também medidas que focam os manejadores, como a avaliação das práticas positivas de manejo através da observação do uso de bandeiras e tom de voz calmo, ou negativas com uso de gritos e uso de choques, que prejudicam o bem-estar dos animais e dos próprios manejadores.


O BEA é estudado de maneira objetiva e segura através de diferentes caminhos e métodos. A utilização da observação de indicadores comportamentais consiste em um caminho amplamente utilizado e consolidado, possibilitando a leitura das diferentes sensações dos animais frente a inúmeras situações, possibilitando o embasamento de estudos ou de diagnósticos pontuais. Para a obtenção de resultados confiáveis e precisos, é importante o profundo conhecimento e treinamento prévio sobre o comportamento da espécie a ser observada. Também é positiva a combinação de medidas diferentes que tenham propósitos complementares, sendo esta uma prática comum e bastante útil, tanto no que diz respeito ao uso de indicadores comportamentais como aos demais. Existem protocolos que facilitam o registro e a organização das informações colhidas baseando-se nos indicadores de BEA, sendo bastante utilizados em pesquisas e auditorias.



Leitura Recomendada:

Ferramentas usadas na avaliação do bem-estar animal

http://www.grupoetco.org.br/arquivos_br/aulas/aula-05-bea.pdf

MARTIN, P.; BATESON, P. P. G.; BATESON, P. Measuring behaviour: an introductory guide. Cambridge University Press, 1993.





André Albuquerque

Zootecnista

Consultor iZoo de Bem-estar e Comportamento

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